Sobreviver sem sentir solidão, ou sem o sofrimento que advém dela é um mito que engana muita gente. Métodos não faltam, prometendo ensinar como não sofrer sozinho esse “mal”. Entre as fórmulas mais comuns, estão aquelas que ajudam a atingir o ápice, sem que tenhamos qualquer esforço e muito menos que seja preciso sair de casa, como os antidepressivos e as satisfações oferecidas através da tecnologia e das redes sociais. O nosso histórico cultural indica que a solidão é um monstro voraz que no arrasta para o abismo profundo. Aprendemos que, estar sozinho nos provoca ansiedade, angústia e posteriormente até uma depressão.
Geralmente,
as pessoas solitárias são consideradas uns indivíduos instáveis e
desequilibrados. Pessoas sozinhas costumam não gostar do espelho, nem de ver a
própria imagem refletida nele, sempre estão com rádio e/ou televisão ligados,
perdem muito tempo conectados à internet, quando não procuram anestesiar a
solidão com algum subterfúgio. Eles sempre estão em busca de algum tipo de
companhia que proporcione o alívio de suas próprias emoções e percepções. O
encontro com a solidão é o primeiro, mais real e verdadeiro que somos capazes
de vivenciar em toda nossa existência, trata-se do vínculo com o outro ser que habita
em nós.
A
solidão é um estado de independência, quando você olha para si mesmo com estranhamento
e coloca esse sentimento na frente do relacionamento com as outras pessoas. Esse
é um lugar em que a gente vai de encontro com o pior que há dentro de nós,
aquele “eu” que costumamos menosprezar e que desejaríamos que não existisse.
Porém, esse também é um lugar em que ficamos cara a cara com o melhor de nós
mesmos, onde conseguimos visualizar aquilo que nos conduz, que nos dá alegria e
prazer, que promove o autoconhecimento. Apesar de todas as adversidades da
vida, cada um sabe a dor e a delícia de ser quem é.
Nós
precisamos superar as convenções sociais e desconsiderar a pressão coletiva,
que atestam que devemos estar sempre acompanhados. Ocasionalmente, devemos admitir
que a solidão é um estímulo, afinal esse é o único lugar em que podemos estar
em companhia de nós mesmos, na mais perfeita plenitude. Mas, esse não precisa
ser considerado um cenário negativo, pois, ser sozinho é ter a solidão como
aliada. Sentir a solitude é passar alguns momentos só e não sofrer por causa
disso, além de apreciar a própria companhia. São situações totalmente
diferentes que apresentam diversas consequências inesperadas.
Para escapar da solidão, é possível começar estimulando pequenas doses de si mesmo, reservar um tempinho para ficar com os próprios pensamentos, escrever sobre o que sente, analisando as atitudes e os comportamentos que admira, mesmo aqueles que sejam incoerentes. Depois, é bom ler tudo que escreveu, escutando a própria voz. Se esse exercício provocar alguma tristeza com uma parte desfavorável de sim mesmo, é perfeitamente normal, ganhamos um forte aliado no desenvolvimento da inteligência emocional. Essa jornada em direção ao profundo de nossa alma pode causar perturbação em quem não está acostumado a praticar, com o tempo melhora.
Cada indivíduo é diferente, alguns se sentem energizados após alguns momentos sozinhos, enquanto outros, não conseguem ficar sem estar em companhia de outras pessoas. É necessário ter sabedoria para ambicionar o que precisa, e ser generoso consigo mesmo, afinal só nós mesmos temos acesso às fontes de elementos que dão sentido às nossas vidas. Se o processo se apresentar muito difícil, é interessante buscar ajuda de um amigo, um familiar ou então, de um profissional habilitado. Existem vários roteiros para nos tornarmos senhores e senhoras do nosso próprio destino. Levante e comece a caminhada!