terça-feira, 23 de março de 2021

A história de Caldas de Cipó

A denominação Cipó foi originada através da existência de um cipoal com uma fonte às margens do rio Itapicuru. De acordo com estudiosos, o gentílico Cipó tem origem no Tupi-guarani, “CY” significa: “MÃE” e “YPÓ” significa: “ÀGUA, NASCENTE, FONTE”, os primeiros moradores da margem do rio, aportuguesaram a palavra, que originalmente significava “Mãe D’Água”. Cipó é conhecida como um sertão úmido, mesmo com muito sol e pouca chuva.

"A glória e o nada." (Arquivo Pessoal)

Segundo os antigos romanos, “águas fundam cidades”, reza a lenda que um caçador percorria as margens do rio Itapicuru, que banha a cidade e em suas andanças pelo sertão baiano, atirou na direção de um pássaro que estava pousado em uma árvore, com isso acabou provocando uma revoada que lhe chamou atenção, quando se aproximou, ouviu um borbulho de água jorrando no solo, de temperatura quente e sabor diferenciado.

Naquele local existiam enormes árvores de cipó, o caçador estava diante de um verdadeiro cipoal. Ele seguiu o seu caminho sentido a cidade de Itapicuru da Missão, onde divulgou a informação sobre as águas que descobriu e estabeleceu as coordenadas como sendo na região de Cipó, num cipoal que ficava às margens do rio Itapicuru. A cidade de Cipó foi planejada e por essa razão, possui ruas e calçadas largas, muita arborização e edifícios de linhas retas.

Além da cidade ser considerada uma Estância Hidromineral, qualificação que ganhou em 16 de maio de 1935, quando aumentou a frequência de visitantes, a cidade também guarda uma história fascinante. Exemplo disso é o Grande Hotel de Cipó, que foi inaugurado em 1952 e recebeu personalidades como o presidente Getúlio Vargas (1882 - 1954); o então governador da Bahia, Régis Pacheco (1895 - 1987); o escritor Guimarães Rosa (1908 - 1967) e o jornalista Assis Chateaubriand (1892 - 1968).

Em 1906, o Coronel Genésio Sales que sofria de úlcera estomacal decidiu passar uma temporada no Sertão Arraial da Mãe D’Água de Cipó, na tentativa de se curar e por atingir seu objetivo, ordenou a construção de um chalé perto da Fonte Termal, que posteriormente se transformou no Hotel Thermal. Nessa época, o coronel fez a primeira viagem de carro ao nordeste baiano, de Alagoinhas a Cipó, chamando a atenção da imprensa nordestina, por isso o governo estadual concluiu a rodovia ligando as duas cidades.

Em 19 de março de 1928, houve a autorização para exploração industrial das águas e nas fontes termais foi construído um moderno balneário, composto por uma piscina de água quente, que na época era a única existente no Brasil. Existia também: consultório médico, salas de tratamentos variados, banheiros e chafariz para beber água termal. Um bando comandado por Lampião - rei cangaço afugentou os banhistas e provocou grandes prejuízos. Após a morte do cangaceiro, Cipó voltou a receber turistas em busca das águas medicinais.

Em 1938, foi inaugurado o Rádium Hotel, de arquitetura Art Déco, que hospedou turistas de muitos países e anexado à ele havia um famoso cassino. Em 23 de julho de 1952 foi construído o Grande Hotel, conhecido como Elefante Branco da Terra, foi inaugurado pelo presidente Getúlio Vargas. De estrutura grandiosa, o hotel atraiu muitos turistas, que aproveitavam os bailes e jogos que o cassino oferecia na época, além de desfrutar das cascatas e piscinas localizadas no subsolo do hotel.

O Grande Hotel de Cipó que atualmente está fechado, era uma das hospedarias mais luxuosas da sua época, ele teve a sua primeira noite no São João de 1952. A construção do hotel durou cerca de dez anos, sua área construída era de 8,5 mil metros quadrados, com cinco andares, 80 quartos, suíte presidencial, cassino, terraço, restaurante, bares, salão de festas e duas piscinas de águas termais. Em 2008, o Grande Hotel foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac).

Ele chama atenção de quem está chegando na cidade, pois de longe já é avistado, com toda sua imponência está inserido no meio do sertão baiano, numa área arborizada e rodeado de casas e pequenas edificações. É uma construção totalmente fora da escala urbana de Cipó. O Elefante Branco da Terra fechou as portas em 1960, sendo reinaugurado com uma nova roupagem, em 04 de novembro de 1982, pelo então governador do estado, Antônio Carlos Magalhães (1927 - 2007).

Os áureos tempos, novamente, não duraram muito e o Grande Hotel fechou definitivamente, no final dos anos 1990. Em 2009, um incêndio destruiu o antigo salão-restaurante do hotel. O fogo, a fumaça e as janelas estilhaçadas, assustaram e entristeceram os cipoenses, principalmente os mais velhos, por ver parte de um passado histórico sendo consumido pelas chamas. O desejo de ver o Grande Hotel revitalizado permanece vivo na população local. É importante preservar essa memória.

@marciamacedostos

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