Assédio é um conjunto de sinais ao redor ou em frente a um local determinado, estabelecendo um cerco com a finalidade de exercer o domínio, ou seja, trata-se de insistência inconveniente, impertinente, persistente e duradoura, perseguição, sugestão ou pretensão constantes em relação a alguém. Que nós mulheres convivemos diariamente com o assédio, não é segredo para ninguém. Infelizmente! Além de viver essa realidade, passei a me interessar mais sobre os detalhes desse tipo de impertinência em 2016, quando em equipe, fizemos uma pesquisa profunda sobre o assunto.
O
estudo foi realizado para o nosso TCC - Trabalho de Conclusão de Curso, na graduação
de Comunicação Social e Jornalismo, cujo tema foi “Assédio sexual e vestuário
feminino nos espaços públicos de Salvador”. Nosso trabalho teve o objetivo de
analisar a prática comum do assédio sexual vivido pela mulher nos espaços
públicos da capital baiana e a relação que esse tipo de ação possui com o
vestuário feminino. Foram investigados os aspectos sociais, históricos e de
gênero que explicam as contradições da sociedade, assim como as causas e
consequências.
Conforme
pesquisas, no Brasil, aproximadamente 64% das mulheres afirmam que já sofreram
algum tipo de assédio na rotina diária. Essas pesquisas apontam que os locais
mais comuns de ocorrerem assédios são os lugares públicos com cerca de 47% e o
transporte público com cerca de 40%. O levantamento apontou ainda que o ônibus
com 76% e metrô com 25%, são os dois locais onde as mulheres informam haver
mais episódios de assédio. Situações como locomoção noturna, regiões violentas,
ambientes lotados, locais desconhecidos e pontos de ônibus, também são
considerados de risco.
Aproximadamente
metade das mulheres brasileiras vivem essa angústia e declaram que já sofreram
assédio sexual no ambiente de trabalho, mas apesar dos dados, o senso de impunidade
e o medo acabam desencorajando as denúncias. A ineficiência de políticas
internas relacionadas à essa prática absurda no âmbito profissional e
principalmente, o receio da exposição, só fortalecem a falta de coragem em
denunciar. Muitas dessas mulheres acabam se sentindo culpadas pelo assédio que
sofreu, elas preferem conviver com o silêncio, a solidão e a sensação de
impotência.
As
mulheres desenvolvem problemas de autoestima e ansiedade, pois sofrem variadas
maneiras de assédio em público, como o assobio inconveniente, os comentários de
cunho sexual, os olhares insistentes, seus corpos tocados sem permissão, os
xingamentos, homens que se exibem de forma inadequada e o pior de tudo, estupros
em locais públicos. O assédio sexual é um tipo de violência que ocasiona vários
problemas para a vida das mulheres. Nós temos o direito de ser quem somos, sem
ter que sofrer qualquer tipo de consequência negativa, abuso e violência por
causa disso.
O
assédio sexual é um tipo de violência banalizada, que segue na contramão dos
direitos garantidos a mulher, principalmente o de ir e vir, a partir do momento
que elas sentem medo de andar nos espaços públicos. O ato de naturalizar isso pode
estar relacionado ao fato de que o corpo da mulher é considerado como algo
público, pela sociedade machista e preconceituosa em que vivemos. Trata-se do
reflexo de uma cultura que não percebe a mulher como sujeito, essa cultura
machista que enxerga a mulher como objeto passivo do desejo masculino.
Não é normal sair de casa com medo de entrar para uma estatística que simboliza uma das maiores formas de torturas e desigualdade de gênero, isso pode prejudicar até a nossa saúde mental. Essa realidade precisa ser combatida e modificada, urgentemente, pois fere uma das premissas básicas do Estado Democrático de Direito, que é a dignidade da pessoa humana. Apesar da influência patriarcal ser forte em nossa sociedade, é necessário mais educação e conscientização do problema para reduzir o assédio e promover a prática constante do respeito.