terça-feira, 29 de setembro de 2020

A vida por um fio

Era só mais um dia de trabalho, como tantos outros. Muitas vezes ligamos o botão automático e passamos a agir de forma involuntária. Isso não é bom, porque a vida é intensa e ela exige de nós, atitude e ação. A vida é igual uma peça de teatro e não permite ensaios. 

A paixão por duas rodas, é coisa de família. (Arquivo pessoal)

Naquele que chamo de dia D, o dia em que experimentei pela primeira vez, aquela que acredito ser a pior sensação da vida, que é ver a morte passar diante de nós. Era dia 02 de agosto de 2019, uma sexta-feira de clima ameno e eu seguia para o trabalho normalmente, estava de motocicleta, uma paixão antiga, amo a locomoção sob duas rodas.

Quando o vento bate forte e deixa o corpo leve como uma pluma, fico fascinada e me apaixono ainda mais pela motocicleta. Seguia pela famosa Avenida Paralela, uma importante via urbana da capital baiana, inaugurada há mais de quatro décadas. A Paralela tem fluxo intenso durante todo o dia, riscos e perigos são constantes.

Tenho consciência dos riscos do trânsito de uma cidade como Salvador - BA e procuro dirigir com total responsabilidade. Para um motoqueiro, os riscos são bem maiores, infelizmente não existe gentileza no trânsito e na maioria das vezes, somos considerados culpados em casos de acidentes.

Naquele dia o fluxo estava intenso, porém fluindo, coisa que não é muito comum, em se tratando da Avenida Paralela. O meu trajeto até o trabalho era relativamente curto e costumava ser tranquilo, mas, acidentes sempre podem acontecer. Moto é o veículo que mais mata no Brasil.

Ao tentar uma ultrapassagem, uma carrocinha puxada por uma caminhonete me atingiu e me jogou contra um outro carro, tudo foi muito rápido e numa fração de segundos, tive a minha vida por um fio. Nesse momento a gente sempre pensa que vai morrer, é inevitável.

Nessa situação, um turbilhão de coisas passa pela mente e não é possível estabelecer uma conexão entre os pensamentos. Eu rodei na pista e caí com a moto por cima de mim. Tudo é instantâneo e só dá para gritar por socorro e chamar por Deus, pelo menos no meu caso, que fiquei consciente o tempo todo e acredito em Deus.

Deus! Acredito mesmo que Ele me livrou da morte. Testemunhas do acidente disseram que foi por pouco, não ter sido atropelada, um carro chegou a passar por cima da minha perna e um outro motorista pisou rápido no freio, quando a minha cabeça e os meus braços já estavam debaixo do carro dele. Por isso que afirmo: a minha vida, realmente esteve por um fio.

O socorro demorou a chegar e eu fiquei desesperada, chorava muito, sentia uma forte dor nas costas e queria sair logo dali. Deitada no asfalto, olhava profundamente para o céu, tentando me acalmar. Percebendo que estava viva, comecei a sentir muito medo de ter alguma sequela no corpo, principalmente na coluna, por causa da forte dor que persistiu por meses.

Sentia uma vontade incontrolável de chorar, enquanto os flashes do momento do acidente insistiam em me perturbar, apesar de muitas pessoas tentarem me tranquilizar. Enfim, fui socorrida e após alguns exames de rotina, ficou comprovado que eu estava intacta, as dores eram por causa do impacto da pancada.

Depois das irritações com questões burocráticas como exame de corpo de delito, liberação do veículo e os gastos com seu conserto, a lição que fica é: foi uma experiência horrível, marcante, mas estou viva e só por isso, não dá para reclamar de absolutamente nada, quando ganhamos uma nova oportunidade, uma nova chance para viver.

O lema é: agradecer mais e reclamar menos. Se eu consigo fazer isso sempre? Claro que não. Mas tenho tentado melhorar esse comportamento e quando me sinto insuportável e isso acontece muito, procuro lembrar do acidente e ressignificar a insatisfação. Não é fácil, o exercício é diário, mas é humanamente possível. 

@marciamacedostos

terça-feira, 22 de setembro de 2020

A Pandemia e o novo normal

Estamos assustados com a configuração desses novos tempos, uns acreditam no poder letal da COVID-19, outros não acreditam na doença, uns levam a vida normalmente como se nada estivesse acontecendo, outros estão ficando pilhados com os acontecimentos. O fato é que, para muitos de nós, essa é uma novidade assustadora, nunca vivemos algo parecido, com aulas suspensas, comércio fechado, lockdown, uso obrigatório de máscaras e banhos de álcool em gel.

Primeiro passeio, após seis meses de isolamento social. (Arquivo pessoal)

Se fossemos avisados que em 2020 iríamos viver essa loucura, certamente não acreditaríamos, as vezes tenho a impressão de que o primeiro semestre foi totalmente perdido. 2019 não foi um ano fácil, me recordo das inúmeras brincadeiras que circulavam nas redes sociais, as pessoas desejavam que aquele ano acabasse logo, por causa de tantas tragédias que ocorreram. 

O rompimento da barragem de Brumadinho – Minas Gerais, o incêndio no centro de treinamento do Flamengo no Rio de Janeiro - RJ, o massacre em uma escola estadual de Suzano – São Paulo, foram só algumas tragédias terríveis que aconteceram em 2019, no Brasil. Por isso, desejamos tanto romper aquele fatídico ano e começar tudo novamente. Mal sabíamos o que estava por vir.

Em 1º de dezembro de 2019 a COVID-19, doença respiratória aguda causada pelo Coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-COV-2), foi identificada pela primeira vez na China, sendo que o primeiro caso foi reportado em 31 de dezembro do mesmo ano.

Em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o surto da doença causada pelo novo Coronavírus, constituía uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional e em 11 de março de 2020, a Covid-19 foi caracterizada pela OMS como uma Pandemia, diante de sua ampla expansão. Uma Pandemia é definida quando ocorre um grande número de Epidemias em várias regiões do planeta. Trata-se do pior cenário infectológico que existe.

No Brasil, o primeiro caso da doença foi confirmado em 26 de fevereiro de 2020 e de lá para cá a situação se agravou muito. Atualmente, o país possui mais de 38 milhões de casos confirmados e mais de 713 mil mortes pela COVID-19. No mundo inteiro são mais de 695 milhões de casos confirmados e já ultrapassamos a marca de 6 milhões de mortos por causa da doença. É assustador!

Agora vivemos nessa incerteza do amanhã, não sabemos como será o futuro e até quando viveremos dias tão sombrios. Meses depois que toda essa loucura começou, ainda nos encontramos perdidos em meio a tantas perdas, não são apenas números, são inumeráveis, são milhares de vidas ausentes, inúmeras famílias dilaceradas por essa dor. Não pode haver velório, nem homenagear e muito menos se despedir de uma forma justa e digna dos seus parentes queridos. Isso dói!

É difícil achar uma pessoa que não saiba de alguém, um parente, um amigo ou um conhecido que tenha perdido a batalha contra essa terrível doença, eu sei de várias pessoas. O meu maior desejo no decorrer desse ano, é que possamos sair dessa triste e lamentável situação, seres humanos melhores, mais justos, que consigamos aprender a exercer, cada vez mais, a empatia e o respeito ao próximo.

Me considero uma pessoa realista, gostaria muito de ser otimista, mas não consigo. Confesso que, pelo que vejo em meu dia a dia e diariamente nos noticiários, fico desanimada com tantas pessoas usando de má fé, se utilizando de vários artifícios escusos para se dar bem. Sinceramente!? Tenho medo do que está por vir e me preocupo com o futuro de meu filho e de meus sobrinhos.

Claro que devemos nos apegar aos modelos positivos, nos vários exemplos de amor, carinho, empatia, solidariedade e respeito que existem por aí. Devemos colocar uma lente de aumento nessas características positivas e multiplicar o bem, fazendo a nossa parte, aumentando essa corrente.

Não sabemos até quando viveremos esse caos, acredito que nada será como antes, fato é que, sempre existe algo de bom, que podemos fazer para melhorar o dia e a vida da gente e do outro. Vamos focar nisso? Uma andorinha só não faz verão, mas uma revoada delas, é capaz de romper qualquer barreira.

@marciamacedostos

sábado, 19 de setembro de 2020

Flor de Cacto

As flores de cactos são vistosas e fortes, simbolizam a perseverança e a firmeza. (Reprodução internet)

O Blog Flor de Cacto é um sonho antigo que está se tornando realidade. Eu sempre gostei de escrever, tive vários diários no decorrer da infância e da adolescência e sempre tirei boas notas em redação. A ideia do blog surgiu quando entrei na graduação de Comunicação Social e Jornalismo, alguns orientadores diziam que tínhamos que comunicar e nos expressar de alguma forma, porque quem não é visto, não é lembrado.

Aquilo sempre ficou na minha mente, mas eu confesso que procrastinei bastante, algumas vezes ensaiei começar e muitas vezes achei que era só um sonho sem importância. Mas prevaleceu o desejo de contar meus pensamentos, sentimentos e perspectivas, as experiências do dia a dia e os acontecimentos da vida real. Agora estou aqui, apostando e dando o melhor de mim, fazendo algo que sempre fiz nos bastidores da minha vida.

Eu não pretendo impor as minhas ideias e nem promover polêmicas, o meu desejo é proporcionar o diálogo, a troca de experiências, ter um contato próximo com pessoas que de alguma forma se identifiquem comigo. A ideia estava clara e faltava então, batizar o projeto e olha que não foi fácil, pois queria um nome que fosse impactante e que me representasse de alguma forma, ele teria que tocar fundo no meu coração.

Foi um processo lento, pesquisei bastante, fiz uma lista grande de todos os nomes que vinham na mente e eu gostava, mas nada batia forte, nem me fazia sentir sua força. Os dias foram passando e eis que de repente, eu estava pronunciando alguns nomes aleatórios e os nomes de algumas flores, para sentir a sonoridade e tal, daí surgiu “Flor de Cacto”. Admito, bateu diferente em mim.

Parei aí, a conexão foi imediata, eu queria um nome marcante e que me representasse de alguma maneira, a flor de cacto caiu como uma luva. Ela é inspiradora e notável, nasce em condições extremas, é vistosa e muito forte. Cactos são plantas adaptadas à vida em ambientes áridos, características comuns em boa parte do Nordeste Brasileiro, apresentam cores, formatos e tamanhos diferentes, além de estratégias de sobrevivência.

O filósofo grego Theophrastus, considerado o Pai da Botânica, encontrou uma planta cheia de espinhos e resolveu chamar de Kaktos, que faz parte da família Cactaceae. As estruturas vegetais dos cactos são modificadas, para poder armazenar água e também para evitar a perda de água por intermédio da transpiração, por causa disso, não possuem folhas e sim espinhos. Além de diminuir a superfície de evaporação, suas estruturas a protegem do ataque de predadores herbívoros.

Para que a flor de cacto possa florescer, precisa haver condições específicas, necessita de pouca água e de iluminação intensa. Ela é muito comum e combina com o meu Nordeste, uma região linda, quente, de pessoas fortes, batalhadoras e resistentes, que enfrentam qualquer desafio para sobreviver, como a seca e muitas disparidades socioeconômicas.

Eu não me considero uma mulher doce e meiga, sou firme, corajosa, determinada e balanço mas não caio, assim como a flor de cacto que além de bela, é forte, resistente e capaz de sobreviver em meio a muitos desafios. Por isso escolhi esse nome para o meu blog, acredito que represente muito bem, tanto à mim quanto a Região Nordeste. Espero que gostem, interajam e que possamos ter várias trocas positivas por aqui.

@marciamacedostos

Quem sou Eu?

Me chamo Márcia Macedo dos Santos, nasci em São Paulo – SP, mas tenho origem nordestina, com muito orgulho, sou de família baiana. Sou graduada em Geografia e em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Em breve pretendo iniciar um curso de pós-graduação, desejo que foi adiado por conta do Estado de Pandemia.

Um dia muito importante na minha vida, a formatura de Jornalismo. (Arquivo pessoal)

Costumo dizer que fiz o caminho inverso na minha vida. Me casei muito nova, quando não tinha sequer concluído o ensino médio e com a sobrecarga e responsabilidade dessa decisão impensada, os estudos e a carreira profissional ficaram em segundo plano.

Com muito esforço, consegui concluir o ensino médio e acabei não dando continuidade aos estudos, na época. Se foi uma decisão acertada? Óbvio que não. Só estudando, conseguimos transpor e vencer as barreiras que surgem em nosso caminho, no decorrer da vida.

Eu acredito que a vida é feita de fases, como acontece em um jogo. Algumas fases são fáceis, outras nem tanto e outras são extremamente difíceis, temos que persistir até passar de fase. As dificuldades se mostram com intensidades diferentes para cada indivíduo e em cada ciclo da vida.

Com seis anos de casada, me tornei mãe e dois anos depois, o casamento acabou. Na verdade já havia acabado, bem antes da gravidez, mas a teimosia não me deixou enxergar. Vai saber, qual o propósito de tudo isso?

Foi a partir daí que eu decidi tomar as rédeas da minha vida. Comecei logo a trabalhar e já tive tantas profissões, que não é possível contar. Voltei a estudar, fiz primeiro a graduação em Geografia e depois, realizei o sonho de infância, cursei o Jornalismo.

Nesse meio tempo, fui uma mulher multitarefas, estagiei, trabalhei, fui mãe, dona de casa, pirei o cabeção várias vezes, mas não desisti. Eu tinha na mente, a ideia fixa de correr atrás do tempo perdido e fui. Se foi fácil? De jeito nenhum. Acredito que nada conquistado com facilidade, seja valorizado.

Não me considero uma mulher guerreira, porque essa palavra “guerreira”, me passa a ideia de algo perfeito demais, quase invencível, considero isso uma utopia, pois ninguém é forte o tempo todo. Muitas vezes errei, fraquejei, me decepcionei, quebrei a cara, ouvi vários “nãos” e muitas vezes, quis desistir de tudo.

Na verdade, eu sou uma vencedora, porque apesar de todas as batalhas, estou aqui, de pé, firme e sempre querendo ir além. Só cheguei até aqui, porque acredito em Deus e sei que Ele cuida de mim e me dá forças para continuar lutando.

Criei esse blog para me expressar, quem sabe poder encorajar pessoas e principalmente, trocar ideias. Não sou a dona da verdade e nem tenho essa pretensão, o que eu quero é fazer conexões e dividir experiências, sempre respeitando a todos. O respeito é a base de tudo.

“Não quero que você pense como eu. Só quero que pense.” Vamos pensar juntos?

Sejam bem vindos!

@marciamacedostos

Velha não, experiente!

Muito tempo sem postar por aqui e nesse período muita coisa aconteceu, algumas boas outras ruins, nada fora do normal, são apenas as conseq...