terça-feira, 13 de outubro de 2020

Liz

Estou com meu coração destruído. Na sexta-feira, dia 09, acordei com uma notícia muito triste, perdemos a Liz, minha priminha, que nasceu com alguns problemas sérios de saúde, mas que lutou bravamente pela vida, durante seis meses. A ultrassonografia morfológica indicou que a pequena tinha alterações na bexiga e nos rins, nada que não se resolvesse com cirurgia. Acreditamos até o último momento que o milagre iria acontecer e cada etapa que ela vencia, era uma injeção de ânimo para todos nós.

Carol e Liz, amor que não se mede. (Arquivo pessoal)

A Liz é filha da minha prima Caroline, uma garota por quem tenho um carinho enorme e amo muito. Ela se casou em janeiro de 2016 e eu fui madrinha de seu casamento. Carol nasceu e se criou em Cipó - Bahia, logo depois do casamento, o casal decidiu mudar o rumo de suas vidas e se mudaram para Foz do Iguaçu - Paraná.

Essa decisão assustou e preocupou bastante, pois era uma atitude drástica da menina que nunca saiu do interior. A grande surpresa foi que ela estava decidida e em nenhum momento demonstrou fraquejar na decisão. Eles mudaram, ela concluiu a graduação em Serviço Social e demonstrou sim, ser capaz de tomar as rédeas de sua própria vida.

Voltando a falar sobre a princesa Liz... Lembro, quando fui ver Carol no aeroporto de Salvador, em setembro de 2019, ela passou uns dias em Cipó e já estava indo embora, a encontrei chorosa e quando a abracei, perguntei o motivo do choro, ela respondeu imediatamente: “Saudade do meu sobrinho!”, tinha conhecido seu primeiro e único sobrinho naquela viagem.

O encontro foi rápido, mas deu tempo dela me contar o quanto estava feliz e radiante por ser tia. Perguntei se ela estava com vontade de ser mãe também. A resposta foi: “Não! Agora, pretendo começar em um trabalho novo e organizar algumas coisas na minha vida, antes de pensar em filho.” Incentivei a seguir com esses planos e disse que o desejo materno iria surgir no momento certo.

Carol foi embora e alguns dias depois me chamou no whatsapp: “Prima! Lembra daquela nossa conversa no aeroporto? Então... Eu já estava grávida e não sabia.” Ela disse que a gravidez não foi planejada, mas que a criança já era muito amada e que, se Deus mandou, Ele garante. Eu custei acreditar, mas parabenizei e disse que o bebê seria muito bem-vindo. Não imaginávamos o que estava por vir.

Carol sempre foi uma garota meiga e doce, além de ter muita fé e confiança em Deus. Apesar de estar longe de toda a família, sua gravidez foi “tranquila” e ela preparou cada detalhe com muito carinho. Quando descobriu o sexo, a felicidade se completou, pois desejava mesmo uma menininha. Eu acompanhava e apoiava de longe, todos os preparativos para a chegada da Liz.

De repente, o sonho lindo pareceu se transformar em pesadelo e minha prima sofreu muito durante o trabalho de parto e o próprio parto. Depois de passar por momentos terríveis e sofrer durante três dias para dar à luz, ela teve que se submeter a uma cesariana de emergência.

A Liz passou do tempo de nascer, o que agravou muito o seu estado de saúde. Ela chegou ao mundo com bradicardia fetal, precisando urgente de manobras de reanimação, sendo encaminhada imediatamente para a UTI Neonatal. No decorrer do tempo, passou por oito cirurgias e parecia se agarrar com toda força à vida, contrariando todo e qualquer pensamento negativo. Foi uma luta tremenda pela vida da pequena.

A força que Carol demonstrava ter, me deixava completamente perplexa e ao mesmo tempo, orgulhosa. Ela sempre dizia: “É Deus quem me dá forças.” Aquela menina que parecia tão frágil, virou uma fortaleza e não desgrudou da filha, um só instante. Ela sofria, a gente sabia que ela estava sofrendo e sofríamos com ela, mas nunca ouvi uma só lamentação de sua boca.

Foram seis meses lutando pela vida da Liz, internações em Foz do Iguaçu-PR e em Curitiba-PR e ainda foi diagnosticada tardiamente com a Síndrome de Hipoperistalse Intestinal com Micro-cólon e Megacistis, sendo então, desenganada pelos médicos e resistiu, até onde deu. E como sofreu, essa criança!

Era um sofrimento sem fim. Queríamos tanto um milagre, mas Deus não quis e resolveu colher para si, o nosso anjinho. Hoje a nossa estrelinha brilha lá no céu e nós estamos aqui, doídos com a sua partida. A mamãe, o papai, os avós, os tios, estamos todos arrasados.

Eu não consigo aceitar com naturalidade, a morte de uma criança. Uma vida inteirinha pela frente, tantas oportunidades a serem vividas, um livro em branco pronto para ser escrito, uma história cheia de esperança, se perder assim. Não é fácil entender que Deus fez segundo a vontade dEle, que Ele sabe de todas as coisas e só Ele pode confortar essa dor que sufoca.

A cantora Eyshila compôs uma música intitulada “O Milagre Sou Eu”, também num momento de dor, quando perdeu seu filho. Essa música não sai da minha cabeça e eu choro só de lembrar os versos dessa canção. Tento me convencer de que, já que o milagre que desejamos tanto, que seria a cura da Liz, não aconteceu, o milagre então, é a Carol.

Hoje não somos capazes de compreender o porquê isso ocorreu, porque Carol teve que passar por tudo isso, mas alguma lição teremos que tirar de toda essa dor e sofrimento. Por ora, com as lágrimas rolando em meu rosto, tento repetir sem cessar, o trecho de uma música que diz: “Deus me deu, Deus tomou, Bendito seja o nome do Senhor!”

Esse texto é um desabafo para mim e uma singela homenagem à nossa eterna Liz e também à Carol – O milagre é você, prima! Eu aprendi tanto com vocês. “Que o tempo seja capaz de transformar a dor da perda em saudade serena e que acalme o coração, em vez de fazer sofrer.”

@marciamacedostos

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