Era só mais um dia de trabalho, como tantos outros. Muitas vezes ligamos o botão automático e passamos a agir de forma involuntária. Isso não é bom, porque a vida é intensa e ela exige de nós, atitude e ação. A vida é igual uma peça de teatro e não permite ensaios.
Naquele
que chamo de dia D, o dia em que experimentei pela primeira vez, aquela que
acredito ser a pior sensação da vida, que é ver a morte passar diante de nós. Era
dia 02 de agosto de 2019, uma sexta-feira de clima ameno e eu seguia para o
trabalho normalmente, estava de motocicleta, uma paixão antiga, amo a locomoção
sob duas rodas.
Quando
o vento bate forte e deixa o corpo leve como uma pluma, fico fascinada e me
apaixono ainda mais pela motocicleta. Seguia pela famosa Avenida Paralela, uma
importante via urbana da capital baiana, inaugurada há mais de quatro décadas.
A Paralela tem fluxo intenso durante todo o dia, riscos e perigos são
constantes.
Tenho
consciência dos riscos do trânsito de uma cidade como Salvador - BA e procuro
dirigir com total responsabilidade. Para um motoqueiro, os riscos são bem
maiores, infelizmente não existe gentileza no trânsito e na maioria das vezes,
somos considerados culpados em casos de acidentes.
Naquele
dia o fluxo estava intenso, porém fluindo, coisa que não é muito comum, em se
tratando da Avenida Paralela. O meu trajeto até o trabalho era relativamente
curto e costumava ser tranquilo, mas, acidentes sempre podem acontecer. Moto é
o veículo que mais mata no Brasil.
Ao
tentar uma ultrapassagem, uma carrocinha puxada por uma caminhonete me atingiu
e me jogou contra um outro carro, tudo foi muito rápido e numa fração de
segundos, tive a minha vida por um fio. Nesse momento a gente sempre pensa que
vai morrer, é inevitável.
Nessa
situação, um turbilhão de coisas passa pela mente e não é possível estabelecer
uma conexão entre os pensamentos. Eu rodei na pista e caí com a moto por cima
de mim. Tudo é instantâneo e só dá para gritar por socorro e chamar por Deus,
pelo menos no meu caso, que fiquei consciente o tempo todo e acredito em Deus.
Deus!
Acredito mesmo que Ele me livrou da morte. Testemunhas do acidente disseram que
foi por pouco, não ter sido atropelada, um carro chegou a passar por cima da
minha perna e um outro motorista pisou rápido no freio, quando a minha cabeça e
os meus braços já estavam debaixo do carro dele. Por isso que afirmo: a minha
vida, realmente esteve por um fio.
O
socorro demorou a chegar e eu fiquei desesperada, chorava muito, sentia uma
forte dor nas costas e queria sair logo dali. Deitada no asfalto, olhava profundamente
para o céu, tentando me acalmar. Percebendo que estava viva, comecei a sentir
muito medo de ter alguma sequela no corpo, principalmente na coluna, por causa
da forte dor que persistiu por meses.
Sentia
uma vontade incontrolável de chorar, enquanto os flashes do momento do acidente
insistiam em me perturbar, apesar de muitas pessoas tentarem me tranquilizar.
Enfim, fui socorrida e após alguns exames de rotina, ficou comprovado que eu
estava intacta, as dores eram por causa do impacto da pancada.
Depois
das irritações com questões burocráticas como exame de corpo de delito, liberação
do veículo e os gastos com seu conserto, a lição que fica é: foi uma
experiência horrível, marcante, mas estou viva e só por isso, não dá para
reclamar de absolutamente nada, quando ganhamos uma nova oportunidade, uma nova
chance para viver.
O
lema é: agradecer mais e reclamar menos. Se eu consigo fazer isso sempre? Claro
que não. Mas tenho tentado melhorar esse comportamento e quando me sinto
insuportável e isso acontece muito, procuro lembrar do acidente e ressignificar
a insatisfação. Não é fácil, o exercício é diário, mas é humanamente
possível.
Lembro como hoje desse terrível acontecimento. Ver você estirada no asfalto em pleno horário de pico na Paralela me deixou muito mal. Graças a Deus foi apenas um susto e Ele com as suas mãos te protegeu e livrou do pior. Realmente temos que agradecer mais e reclamar menos!
ResponderExcluirRealmente, foi um susto e um desespero muito grande e eu lembro de cada detalhe daquele dia. É triste pensar que muitos não têm a sorte de sobreviver e sem nenhuma sequela, já que, na maioria das vezes, acidente de moto é fatal. Aliás, para mim, não foi sorte, foi Deus.
ExcluirO agir de Deus é lindo.
ResponderExcluirCom certeza. Ele cuida de nós.
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